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Diz-se que nos últimos tempos, sobretudo na ponte aérea antropológica Rio-São Paulo, o debate em torno deste tema – os paradigmas do contorcionismo na antropologia – tem ganhado renovado fôlego. Fala-se em termos de simetrias, flexibilidades, reversibilidades e toda sorte de trejeitos e cacoetes, noções corriqueiras e familiares a todo e qualquer saltimbanco, especialmente os contorcionistas, mas que a princípio soam estranhas num ambiente dedicado quase que única e exclusivamente ao cultivo não do corpo, mas do intelecto. Mas eis que alguns bravos antropólogos vem exercitando esta tarefa quase impossível. Buscando abolir as fronteiras entre o corpo e o intelecto, a ação e a reflexão, o sensível e o inteligível, e assombrados por todos os seus nativos cerebrais, passados e contemporâneos, eis que vai surgindo um novo tipo de atividade no trabalho antropológico, há muito exercida mas só agora oficializada e aceita pelos pares como prática esportiva: o contorcionismo mental.

O contorcionismo mental não é coisa para principiantes. Longe disso, pois seria quase um suicídio, uma irresponsabilidade expor alguém não iniciado em suas técnicas a tamanho estresse! Para se aventurar neste tipo de atividade resolutamente humana, mas que submete a mente humana à condições extra-humanas, ou sobre-humanas, é necessário um longo e dificil adestramento nas sinuosidades do método do volteio, sobretudo o método francês. Só depois de se submeter a este árduo e duro adestramento, o sujeito estará apto a arriscar-se em séries aparentemente simples como esta, colhida aqui totalmente ao acaso e a título de exemplo, mas que exigem a mais rigorosa disciplina para sua completa compreensão: “não pretendo me situar em um lugar exterior ao malabarismo, mas no exterior do malabarismo, no interior da dimensão exterior que lhe é imanente”… Mire veja: é ou não é um troço do muito dificultoso?!

hindu

One Comment

  1. Mano, acho que devíamos fazer com esses malabaristas o que Marx fez com Hegel. Mas que, num sentido sintético ao invés de dialético, pode ser dito da seguinte forma: virar a própria mesa!

    Para isso, o antropólogo não deverá mais ser julgado pelo que escreve ou com quem escreve, mas pelos rituais aprendidos em campo que ele consiga reproduzir com eficácia (simbólica!), fazendo ao mesmo tempo uma reflexão sobre o sentido do afastamento de um ritual desses do meio da aldeia para o meio de uma sala de defesas de uma universidade pública!

    Isso sim é a mais pura técnica e habilidade de “homem total” que o antropólogo secretamente sempre quis ser.


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